Mudar ou não?  

Posted by: εïз Manu εïз


Ao contrário do que já foi, hoje são valorizadas as pessoas que mudam. Raul Seixas foi profético quando disse que preferia ser “uma metamorfose ambulante” a “ter aquela velha opinião formada sobre tudo”. É claro que não se cobra de ninguém que seja tão maluco-beleza, mas a estagnação paga pedágio dobrado. Somos estimulados, sim, a ser metamorfoses ambulantes, se não por outro motivo, pelo menos para acompanhar as mudanças do mundo, e estas são cada vez maiores e em velocidade crescente.

Mas somos também paradoxos ambulantes. Explico: há pelo menos duas contradições importantes quando o tema é a mudança. O motivo principal que nos obriga a mudar é a manutenção do status.Eu preciso mudar para continuar sendo competitivo, para manter minha cultura em dia, para ser bem informado como sempre fui, para atender às expectativas das pessoas com quem convivo, para não ser considerado antiquado, adjetivo que nunca me coube. Ou seja, preciso mudar para continuar sendo o mesmo. Esse é o primeiro paradoxo.

O segundo paradoxo é mais agudo: eu sei que preciso mudar,mas bem que preferia deixar como está. Seria tão bom se tudo ficasse quieto, confortável e seguro... Esse sentimento existe porque qualquer mudança pressupõe movimento, gasto de energia, perigo – e são justamente essas as características que a parte mais primitiva de nosso cérebro está programada para evitar. O racional entende que a mudança precisa acontecer, o emocional precisa ser convencido e, mesmo assim, reluta. É duro sair de uma zona de conforto, que é confortável principalmente porque é conhecida.

Você, como eu, já mudou de casa? Quase com certeza sim, então deve se lembrar de que, mesmo que a mudança fosse para um espaço maior, com mais conforto – uma verdadeira conquista de seu projeto de vida –, no dia da mudança, quando o caminhão da transportadora encostou na calçada, o Macunaíma que habita em você se manifestou com seu famoso bordão: “Ai, que preguiça”.

A realidade é instável!

Mas não temos alternativa. Devemos conviver com nossos dois eus interiores – o que quer mudar e o que quer permanecer. Apesar de o assunto ser moderno, ele não é novo. Há mais de 25 séculos viveu, na cidade de Éfeso, na costa da Grécia, um filósofo chamado Heráclito, que, dizem, vivia angustiado com a velocidade das mudanças. Imagine se ele vivesse hoje!

Heráclito teve duas percepções importantes a respeito do tema.A primeira diz respeito ao que ele chamou de “unidade dos opostos”. Segundo o filósofo, absolutamente tudo na vida é composto por fenômenos, valores ou tendências totalmente opostas, mas que se complementam.

Um exemplo: uma estrada tem uma subida e uma descida, mas continua sendo uma estrada só, e não duas. Outro: se alguém diz que um copo de água está meio vazio, enquanto outro afirma que está meio cheio, ambos estão falando sobre o mesmo copo, e não sobre dois. É o mesmo, mas há opiniões opostas a seu respeito. E essas opiniões não são contraditórias, mas complementares, pois o copo está, de fato, meio cheio e meio vazio. A diferença está apenas no ponto de vista.

O que o sábio Heráclito quis dizer com isso é que as oposições são naturais e nem sequer devemos lutar contra elas, pois estaríamos correndo o risco de negar a própria realidade. A lição que tiramos dessa história é que a realidade é instável por conter os opostos, que, por outro lado, são necessários para a construção do todo.

Os opostos geram a instabilidade que provoca o movimento que determina as mudanças. Daí nasce a segunda observação de Heráclito. “Tudo flui”, disse ele. “Você não pode banhar-se duas vezes no mesmo rio”, pois, na segunda vez, o rio não será o mesmo, uma vez que aquela água já se foi e esta é outra. Ponto para Heráclito. Temos que estar preparados para conviver com os opostos e para nos adaptarmos às novas realidades que surgem o tempo todo.

Mas observe como algumas pessoas têm uma incrível dificuldade para lidar com essas duas situações. E acabam pagando um preço alto por não conseguirem entender a instabilidade dos fenômenos e a oposição dos componentes da realidade. Cuidado! Adaptação não é o mesmo que acomodação. O acomodado não muda, o adaptado muda o tempo todo.

Não precisamos ser metamorfoses ambulantes, mas não podemos ter a velha opinião formada, imutável, irremovível, pétrea. Há uma diferença entre “dualidade” e “impasse”. Os opostos de Heráclito compõem dualidade. Dia e noite. Vida e morte. Homem e mulher. Inverno e verão. A dualidade pressupõe o uso de “e”. O impasse vale-se do “ou”. Viveremos tão melhor quanto mais aceitarmos o uso do “e”, que pressupõe soma não divisão.

Mudanças são boas quando trazem acréscimos para nossa vida. O duro é perceber que ir para outro emprego, acabar com um casamento falido, promover alterações no visual e criar novos hábitos de vida, entre outras, são mudanças que acrescentam. Não significam perdas, e sim ganhos.


Seis características para mudar

• INCONFORMISMO: Significa não estar conforme, não concordar com uma situação estabelecida. Os inconformados são os que mais incomodam os outros, mas também são eles que provocam as melhores mudanças.

• CORAGEM: Sem esse atributo, ninguém promove mudança. As pessoas, por princípio, resistem a mudanças, pois isso ameaça a situação atual, que, mesmo que não seja a melhor, pelo menos é conhecida.

• PERSISTÊNCIA: Sem persistir, não adianta nem ser corajoso, pois as mudanças dificilmente são estabelecidas de maneira rápida. Sempre é necessário o tempo do entendimento, da assimilação, da aceitação. E o tempo da ação. Haja paciência.

• MÉTODO: Para ir do ponto A ao ponto B é necessária uma estratégia, que é o nome que se dá ao método que será utilizado para cobrir essa distância.

• RELEVÂNCIA: A idéia nova tem que ser relevante, ou seja, tem que ser boa, útil, ética, senão não existe coragem nem persistência que dêem jeito. Ninguém quer sair de uma situação e ir para outra pior.

• CRIATIVIDADE: Sair do ponto A é uma coisa, chegar ao ponto B é outra coisa. O A eu já sei qual é, o B precisa ser criado. Sem o poder criativo ninguém vai prestar atenção em seu inconformismo.


Eugenio Mussak
http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/047/pensando_bem/conteudo_236927.shtml

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